O Pagador De Promessas [Anselmo Duarte] (1962)

Para cumprir uma promessa a Santa Bárbara, Zé-do-Burro carrega uma cruz nas costas de sua casa no sertão até a Igreja de Santa Bárbara, em Salvador. Rosa, sua esposa, acompanha-o nesta caminhada de sete léguas. Como parte da promessa ele havia dividido seu sítio no interior com os sitiantes mais pobres da região. A caminhada com a cruz até Salvador seria a segunda parte da promessa. Porém, ao chegar com a cruz até a porta da igreja, ele entra em conflito com Padre Olavo, que se horroriza ao tomar conhecimento de que tal promessa havia sido feita para que o melhor amigo de Zé, um burro doente, ficasse curado. Além disso, a promessa fora feita no terreiro de Iansã, mas para Padre Olavo essa diferença é óbvia: Iansã e o candomblé são símbolos do diabo. Assim, ele manda fechar as portas da igreja para que Zé, com a sua cruz, não possa entrar. Do lado de fora, nos degraus da escadaria da Igreja de Santa Bárbara, Zé, sem saber como argumentar e sem sequer entender os motivos de Padre Olavo, fica com a sua cruz e a determinação de pagar sua promessa a qualquer preço. Enquanto isso, Rosa deixa conquistar-se pelo galante Bonitão, um gigolô da vida noturna de Salvador, que lhe dá a oportunidade de sonhar com a cidade e com toda a luxúria que ela poderia oferecer. Dividida entre Zé e Bonitão, Rosa se encontra numa situação cada vez mais oscilante. Zé, que espera diante da igreja, provoca reações e atenções da população de Salvador. Enquanto Padre Olavo procura achar uma saída para uma situação politicamente desfavorável, Zé-do-Burro vai progressivamente e involuntariamente se tornando um herói. Os comerciantes da praça começam a usar a presença de Zé para fazer negócios às suas custas. A imprensa, farejando uma boa história, transforma o ingênuo Zé em uma figura revolucionária, que reparte suas terras com os necessitados, favorável à reforma agrária. O jornal se declara disposto a apoiar a futura carreira política de Zé em troca da exclusividade de sua história. Até o poeta de rua, Dedé, pensa em lucrar com a publicação do sofrimento de Zé. Para agrado da população negra e dos insatisfeitos com a postura de Padre Olavo e da Igreja , Zé decide enfrentar a autoridade católica. A população negra de Salvador se coloca ao lado de Zé, mas ninguém parece querer escutar o que ele tem a dizer. Ele só quer pagar sua promessa. Quando a polícia chega para prendê-lo, produz-se um tumulto, no qual Zé acaba morrendo. E assim ele é transformado de herói involuntário em herói trágico. (Baseado em Cinemais, , maio-jun, 2000)
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